Visita ao impacto

Hoje fiz uma visita a outro mundo. Dentro de um grande muro cercado de indiferenças, baixas crenças, restos humanos e migalhas de sonhos e subjetividades de pessoas mortais, assim como eu e você.
Minhas emoções paralizaram-se por longos instantes e a angústia me tomou por um impulso avassalador, nunca me senti tão perto de Foucaul, nunca me senti tão perto das descrições do Grande Internamento, nunca me senti dentro de um filme de grande produção ("O bicho de sete cabeças"). Nunca antes de visitar um hospital psiquiátrico.
Os meus olhos jamais enxergaram por longos momentos humanos "animalizados", se é que essa palavra existe. O contraste das duas alas ( SUS e particular) era evidente. Gritante eu diria. Melhor, era vergonhoso.
Lado SUS : Impactante. Sujo. Ver aquelas pessoas naquele estado me levava a questionar todos os meus princípios de vida, todos os meus ideais, levava a um estado de indignação total e eu me perguntava aonde estavam as autoridades políticas desse país, aonde estava Deus, aonde estava o respeito pelo próximo, aonde estava? Aonde eu estava?
Lado particular: Limpo. Aparentemente tudo mantinha um funcionamente regular, tranquilo. Até que ponto? Pra quem? Por quantos reais?
Essas eram as perguntas que me seguiam enquanto eu permanecia naquele lugar. As perguntas e o medo, medo de ser tocada, bulinada pelos internos. E eles me olhavam, me tocavam e nesse processo eu chegava a creditar que era tudo parte de um terrível sonho.
Enquanto aluna de Psicologia eu me pergunto: Até onde se faz necessário o internamento? O tratamento famacológico? As diferenças sociais? Que utilidade tem o Psiquiátra? Até onde teremos que engolir esse sistema rudi e imperfeito --> POR VONTADE PRÓPRIA?
Mas por outro lado foi uma experiência bastante enriquecedora, pois a carência de atividades práticas em processo de graduação é enorme e essas visitas só tem a acrescentar aos meu valores e a todos colegas de turma. Espero puder de alguma forma me comportar de maneira diferente de como me comportei hoje (com movimentos travados e premeditados). Espero aprender muito e mudar vários conceitos a mim impostos sem antes eu questionar. Espero, é isso. Espero!

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5 comentários:

Unknown disse...

O bom de tudo isso é q estou sendo a primeira pessoa a comentar.Vou tentar escrever coisas bem kbeca,assim como esse seu blog.Quero dizer q me deixou surpresa com essa sua comparacao da vida,foi realmente lindo.Apesar desse seu lado meio louco,existe em vc um lado muito mas encantador q poucas pessoas reconhecem.É simplismente esse lado de viver a vida sem fronteiras,sem olhar os empecilhos,sempre com a lado positivo e negativo da vida,e o mais importante:Sara é sempre a msma Sara.bjos,amei o blog.

Unknown disse...

Raquel disse...
"... Apesar desse seu lado meio louco,existe em vc um lado muito mas encantador q poucas pessoas reconhecem" - EU conheço um lado NADA encantador dela que poucas pessoas conhecem. Mas enfim, esse é um belo texto, bastante fiél com a realidade - ao mesmo tempo que é impossível descrevê-la em palavras - e de uma profundidade tocante. Certamente que nao foi uma experiência agradável de se viver (especialmente sendo uma garota em meio a tantos homens), mas necessária para o aprendizado escolar e como experiência de vida. Sem mencionar a minha ala no hospital que certamente merece destaque e que qualquer dia que voce quiser ir, vai ter uma vaguinha pra você lá. Belo texto Sarinha =***

divagando idéias disse...

Sempre pensei no valor do dinheiro, qndo criança pensava em quem o tinha criado. Sei q pensar numa vida sem umas "verdinhas" não seria nada fácil em nossa sociedade capitalista ( nada fácil é modestia, na verdade não viveríamos sem ele), pois como sabemos as pessoas por mais que sintam a necessidade de olhar nos olhos, de dar um abraço amigo, têm sido levadas por um sistema que visa apenas o lucro. E nesta realidade SUS, qual o lucro que elas têm? Outro dia ouvi dizer "o dinheiro não diz eu te amo" e de fato me agarro nesta frase para dizer que precisamos sempre fazer mais do que o dinheiro pode nos dá pra que assim possamos fazer a diferença, mesmo que mude a vida de uma só pessoa, ou de um pequeno grupo.

Vanessa.

Juliana disse...

Te amo Sarinha!
É bem isso mesmo...
;****

sobreoqueninguemvailer.blogspot.com

OllyhandoAlém. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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